Crônica: Vestibulares, Bauman e o nosso cotidiano

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Acompanhando as redações dos meus alunos e dos demais que prestam o ENEM ou os demais vestibulares espalhados pelo País, noto que o processo de construção adquiriu um mesmo padrão, quando retratamos o Exame Nacional do Ensino Médio como este paradigma. Todavia, há inúmeras exceções como UFRGS, UFSC, UFPR, FUVEST, apenas para citar alguns vestibulares que fazem parte do meu circuito. E quando falamos em construção de texto, produção de texto, oficina de redação, viajo por uma área que há vinte e cinco anos venho desenvolvendo técnicas, aprendendo com colegas, discutindo com amigos, ouvindo e lendo alunos, lendo muito. E chego há atual (porém não é definitiva, pois somos seres em formação, apresentando-me como socrático) conclusão: a argumentação é a chave para a diferenciar a redação de amadores e profissionais. Gente, a técnica estrutural é sempre a mesma, contudo a diferença aparecerá na argumentação. No repertório sociocultural. Na quantidade e qualidade da leitura. E quando me remeto a este campo gostaria de explicitar o foco da crônica que aqui que se encontra. Só para encerrar esta introdução, adianto: Bauman, o polonês que autor da teoria “modernidade líquida”, que ancora uma de suas geniais obras, é citado em mais de 70% nas redações.

Este sociólogo que exerceu sua função com brilhantismo, autor da “Modernidade Líquida”, mercê ser muito mais estudado. Não apenas visto diante da historiografia apresentada pela Sociologia, porém sua teoria, seus tratados e discursos, além das suas teses devem ser estudadas a fundo. Um componente essencial diante dessa sociedade, que cada vez mais nos mostra a aversão, a ausência de empatia, além do consumismo desenfreado (o pleonasmo fez-se necessário para desenhar o quão consumista somos). Costumo expor para os meus alunos e amigos, que Zigmunt Bauman não poderia ser visto apenas nos cursinhos ou de maneira supérflua nos colégios particulares, todos deveriam conhecê-lo, ops, sua teoria.

Vivemos um momento “baumaneano”. Tudo é líquido, efêmero, passageiro, descartável. Talvez pela contribuição da tecnologia, porém os sentimentos negativos, a carga emocional apresentada pelo dia a dia são alguns fatores responsáveis pela sequência e configuração da modernidade líquida. E você é o responsável por isso. Um ser impaciente, um ser que carrega o egocentrismo como parâmetro de vida, o ato de vencer como único objetivo quando tratamos desse mundo alimentado pela competição.

Espero que possamos ler mais Bauman e nos aprofundarmos nesse “infomar” que poucos utilizam para o bem. E que a sociedade seja aquela da partilha, do diálogo, da fraternidade, do acolhimento e do bem comum.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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